Falso médico vai a júri por homicídio ao dar remédio para dor lombar a paciente cardíaca; ela teve infarto e morreu em casa
Falso médico já tinha condenação na justiça Um falso médico vai a júri popular nesta quinta-feira (30) acusado de matar uma paciente cardíaca em 2011 em...
Falso médico já tinha condenação na justiça Um falso médico vai a júri popular nesta quinta-feira (30) acusado de matar uma paciente cardíaca em 2011 em Sorocaba, interior de São Paulo. Helena Rodrigues o procurou com sintomas de infarto. Achava que estava diante de um profissional da área da saúde, mas após a consulta em um hospital da cidade, foi diagnosticada apenas como tendo dor lombar. Fernando Henrique Dardis, que se identificava como "doutor Ariosvaldo" e a atendeu naquela ocasião, prescreveu remédios para aliviar as dores. No dia seguinte, depois de ser medicada, a mulher teve uma parada cardiorrespiratória e morreu em casa. Após a polícia descobrir a farsa de Fernando, ele foi considerado culpado pela morte de Helena. Mas para não ser responsabilizado por homicídio na Justiça, inventou outra mentira em janeiro de 2025: afirmou que estava morto. Com a descoberta da nova fraude e a confirmação de que Fernando está vivo, o julgamento dele foi marcado para começar às 9h desta quinta no Fórum Criminal de Sorocaba. O falso médico e falso morto será julgado por homicídio por dolo eventual (quando se assume o risco de matar). Fernando responde preso pelo crime pelo qual foi acusado pelo Ministério Público (MP). Foi detido em junho deste ano depois que o Fantástico revelou a história. O Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) também apura o caso. O falso médico Fernando Dardis responde preso pela morte de Helena Rodrigues Reprodução/TV Globo Em 2011, Fernando trabalhava como médico na Santa Casa de Sorocaba, onde usava o nome de outro profissional e era conhecido como "doutor Ariosvaldo". Ele também é réu por homicídio pela morte de outra paciente que atendeu, Therezinha Monticelli Calvim. Fernando ainda não foi julgado por esse caso. Sete jurados começarão a decidir o futuro do acusado nesta quinta. Eles votarão se Fernando deve ser condenado ou absolvido pela morte de Helena. Se for punido, poderá receber uma pena que pode oscilar entre 12 e 30 anos de prisão. A sentença será dada pelo juiz. Falso médico usou sua foto com o nome e CRM de Ariosvaldo, profissional da área, para exercer ilegalmente a medicina em hospital (à esquerda). Ao lado aparece RG com o verdadeiro nome dele: Fernando Henrique Dardis Reprodução Fernando tem 39 anos, mas chegou a dizer que era mais velho, quando usava um documento com outro nome para manter a farsa de médico. No registro, que tem sua foto, informava ter nascido em 1974, o que também é mentira. De acordo com a polícia, o número do Conselho Regional de Medicina (CRM) que ele usava era de um profissional verdadeiro. Com ele, conseguiu assinar mais de 200 declarações de óbito de pacientes _ isso não significa, no entanto, que Fernando seja responsável por todas essas mortes, já que médicos costumam confirmar mortes de pessoas atendidas por colegas. Mas Fernando nunca foi clínico-geral, o que agrava sua situação. Ele chegou a cursar até o sétimo semestre de medicina, mas abandonou o curso sem concluí-lo. O próprio Fernando admitiu às autoridades que fingiu ser médico entre 2011 e 2012. E nesse tempo em que exerceu a profissão ilegalmente, acabou condenado pela Justiça por falsidade ideológica. Disse ter pego documentos do médico verdadeiro sem o conhecimento do profissional quando fazia faculdade de odontologia e teria estagiado num centro hospitalar em Guarulhos, onde o verdadeiro Ariosvaldo trabalhava. Falso médico era conhecido como 'doutor Ariosvaldo', mas usou nome de outro profissional para trabalhar ilegalmente Arquivo/Polícia Civil Para dar mais credibilidade ao personagem que criou, Fernando também colocou a foto na carteira de identidade de Ariosvaldo e pegou o currículo do verdadeiro médico como sendo seu. Providenciou ainda um carimbo com o nome e CRM do profissional. A fraude foi descoberta após denúncias de pacientes e familiares que procuraram as autoridades. A equipe de reportagem não conseguiu localizar Ariosvaldo para comentar o assunto. Nesse período em que trabalhou como falso médico em Sorocaba, Fernando jamais usou o nome verdadeiro. Batizado como Fernando Henrique Guerreiro, ele resolveu retirar o último sobrenome e adotou no lugar Dardis, que é da sua família paterna. Essa alteração foi feita legalmente. Morte forjada Site e documento da prefeitura informam que houve troca de nomes de quem foi enterrado no cemitério de Guarulhos. Antes era Fernando Dardis, depois um idoso Reprodução/Fantástico A Justiça decretou a prisão preventiva de Fernando em maio a pedido do MP. O motivo: a Promotoria descobriu que ele havia forjado a própria morte para não ser julgado pelos homicídios das pacientes. De acordo com o MP, Fernando conseguiu um atestado de óbito falso. Segundo o documento fajuto, ele teria morrido por sepse no Hospital Brás Cubas, em Guarulhos. O hospital pertence à família dele. Depois disso, ainda segundo a acusação, Fernando forjou documentos do Cemitério Municipal Campo Santo, em Guarulhos, para informar ter sido enterrado lá. Para isso, colocou no sistema do Serviço Funerário Municipal o nome dele no lugar do de um idoso de 99 anos, que realmente está sepultado no local. 'Estou vivo' Fernando Henrique Dardis, o falso médico, usou RG em nome de Ariosvaldo, médico verdadeiro (compare acima) Reprodução O g1 não conseguiu localizar a defesa de Fernando para comentar o assunto até a última atualização desta reportagem. Em um vídeo encaminhado por seus advogados ao Fantástico, o falso médico disse antes de ser preso que vinha "a público esclarecer que está vivo" e que agiu sozinho, "em um momento de desespero" (veja acima). "Venho a público esclarecer que estou vivo, que agi sozinho em um momento de desespero. Lembrando que a dona Helena foi atendida por mim, foi internada, passou por mais três médicos e veio a óbito. Eu não aceito por não ter nada no processo que me indique esse crime e desculpa a todos os envolvidos", disse Fernando na gravação (veja vídeo acima). Investigação: Fantástico descobre paradeiro de homem que simulou a própria morte pra fugir da justiça O Fantástico recebeu uma nota da empresa Med-Tour, que não aparece como sócia do Brás Cubas, mas é de propriedade da família de Fernando. Ela informou que os proprietários receberam com surpresa a notícia narrada pela reportagem e negam envolvimento em qualquer irregularidade. Em 2012, Fernando foi condenado pela Justiça por portar distintivo da Polícia Civil e carregar munições em seu carro, mesmo não sendo policial. O caso ocorreu em 2009 em Guarulhos. À época, ele havia dito à Polícia Militar (PM) que encontrou o material em uma mochila e iria entregá-lo numa delegacia.