Fraude no INSS: PF mirou em senador, dona de agência de campanhas do PT e ex-diretor sob Bolsonaro; veja núcleos do grupo
PF prende nº 2 da Previdência e faz buscas em endereços do senador Weverton Rocha (PDT) A nova fase da Operação Sem Desconto, feita nesta quinta (18) pela ...
PF prende nº 2 da Previdência e faz buscas em endereços do senador Weverton Rocha (PDT) A nova fase da Operação Sem Desconto, feita nesta quinta (18) pela Polícia Federal para apurar desvios de aposentadorias, atingiu suspeitos que entraram no radar dos investigadores a partir de materiais apreendidos em abril com Antônio Carlos Camilo Antunes, o Careca do INSS, principal operador do grupo. Foram 24 alvos de medidas como prisão preventiva, busca e apreensão e instalação de tornozeleira eletrônica. Estão na lista um senador da República, a dona de uma agência de publicidade que atuava em campanhas do PT e um ex-diretor do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) suspeito de desvios desde o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. Quando as fraudes vieram à tona em abril, a PF e a Controladoria-Geral da União (CGU) calcularam que os desvios de aposentadorias e pensões podem chegar a R$ 6,3 bilhões, lesando dezenas de milhares de idosos. Operação investiga fraudes em descontos associativos do INSS. Jornal Nacional/ Reprodução Veja abaixo quem são, quais medidas sofreram e quais as suspeitas contra os principais investigados pela PF nesta nova fase da investigação. Núcleo político Senador Weverton Rocha: busca e apreensão Para a PF, o senador Weverton Rocha (PDT-MA) tinha "posição de liderança política e possível posto de comando dentro da organização criminosa" criada pelo Careca do INSS. Senador Weverton Rocha (PDT-MA) Waldemir Barreto/Agência Senado A polícia diz que o parlamentar recebeu recursos desviados das aposentadorias "por meio de interpostas pessoas, alguns seus assessores", além de manter relação próxima com outros investigados. "Apenas para ilustrar, foi localizado, em conversas entre [...] funcionários de Antônio [o Careca], ainda no ano de 2023, um arquivo em formato Excel intitulado 'GRUPO SENADOR WEVERTON', o qual reforça de maneira contundente essa hipótese fática. O enriquecimento de Antônio, portanto, foi viabilizado por suporte político", afirmou a PF. Weverton foi alvo de um mandado de busca e apreensão autorizado pelo ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal (STF). Em nota enviada pela assessoria do parlamentar após a operação, Weverton Rocha disse que confia "plenamento nas instituições e no Estado Democrático de Direito" e que "a decisão da Corte é clara ao reconhecer a ausência de provas" que o "vinculem a práticas ilícitas ou ao recebimento de recursos irregulares." A PF havia pedido a prisão preventiva do senador. A Procuradoria-Geral da República (PGR), por sua vez, foi contra. Para a PGR, "até o momento, não se demonstrou vínculo direto entre o parlamentar e a execução das condutas ilícitas, nem recebimento de valores ilícitos". Leia também: PF investiga se suspeitos de esquema desvios no INSS tentaram replicar fraudes na Caixa, mostra decisão do STF Gustavo Marques Gaspar - prisão preventiva Suspeito de integrar o núcleo político-institucional do grupo criminoso, Gustavo Gaspar foi "nomeado assistente parlamentar sênior na liderança do PDT pelo Senador Weverton Rocha, à época líder da bancada" e "é considerado, nos bastidores, braço direito do senador". Segundo a PF, ele tinha relação "próxima e intensa" com um funcionário do Careca do INSS que executava os pagamentos ilícitos. Há mensagens que indicam que esse funcionário, chamado Rubens, entregou em uma ocasião R$ 40 mil em dinheiro vivo para Gustavo. Há também planilhas com o controle de movimentação financeira de associações e de empresas do Careca, além de pagamentos a pessoas físicas e jurídicas. Dentre os registros de pagamento de propina, há um no valor de 100 mil reais em favor de 'Gasparzinho'", registra a decisão de Mendonça. Adroaldo da Cunha Portal - prisão domiciliar Adroaldo Portal foi assessor do senador Weverton de 2019 a 2023. De maio de 2023 a maio deste ano, ele foi Secretário do Regime Geral de Previdência Social do Ministério da Previdência Social. Adroaldo Portal, secretário-executivo do Ministério da Previdência Vinicius Loures/Câmara dos Deputados Até esta quinta-feira (18), ele era Secretário-Executivo do Ministério da Previdência Social, tendo sido afastado do cargo por decisão do STF e, em seguida, exonerado pelo governo. A PF apontou movimentações suspeitas envolvendo Adroaldo e seu filho Eduardo — que trabalha como assessor parlamentar no gabinete do senador Weverton. "Entre 23 de outubro de 2023 e 29 de janeiro de 2024, houve créditos, por meio de depósitos em espécie, na conta de Adroaldo, que totalizaram R$ 249.900", afirmou a polícia. O ministro André Mendonça decretou a prisão domiciliar de Adroaldo, em vez da prisão preventiva, porque ele é "pessoa com deficiência física que demanda cuidados especiais e contínuos". Roberta Moreira Luchsinger - busca e apreensão e tornozeleira eletrônica Segundo a decisão de Mendonça, a empresária Roberta Luchsinger é apontada como membro do núcleo político do esquema por ser "pessoa com acesso a estruturas de poder capazes de influenciar decisões de natureza política". Ela nega irregularidades. A PF diz que Roberta foi "essencial para a ocultação de patrimônio" e para a lavagem de dinheiro. Segundo os investigadores, ela teria recebido recursos do Careca do INSS com base em um contrato fictício de consultoria. A empresária Roberta Luchsinger foi um dos alvos da nova fase da operação “Sem Desconto” Reprodução/Instagram Foram localizados cinco pagamentos de R$ 300 mil, totalizando R$ 1,5 milhão, da empresa Brasília Consultoria Empresarial S/A, do Careca do INSS, para a empresa RL Consultoria e Intermediações Ltda., pertencente a Roberta Luchsinger. A investigação encontrou mensagens em que a empresária e o Careca falam das investigações. "E Antônio, some com esses telefones. Joga Fora", ela disse a ele. "Roberta figura formalmente como sócia e representante de pessoa jurídica que recebeu valores oriundos das cobranças indevidas realizadas pelas associações investigadas [pela fraude no INSS] e emitiu notas fiscais sem lastro econômico real", diz a investigação. Núcleo administrativo Romeu Carvalho Antunes - prisão preventiva Filho do Careca do INSS, Romeu Antunes é suspeito de ter assumido o controle do esquema no lugar do pai desde que as investigações se tornaram públicas, em 23 de abril deste ano. Segundo a PF, Romeu tomou o controle de empresas usadas para movimentar dinheiro ilícito, como a World Cannabis, levou recados entre o pai e os demais investigados, se desfez de patrimônio, ocultou bens e conduziu negociações no exterior, como em Portugal, onde o esquema teria um braço. Romeu Carvalho Antunes é filho de Antônio Antunes, conhecido como o Careca do INSS. Edilson Rodrigues/Agência Senado Tiago Schettini Batista - prisão preventiva A Polícia Federal afirma que Tiago Schettini tinha papel tão central quanto o do Careca, mas era mais discreto. Tomava decisões estruturais no esquema e participava da lavagem do dinheiro usando empresas formalmente regulares. A investigação encontrou mensagens que reforçam as suspeitas contra ele. "Em uma das mensagens, [Tiago] chega a afirmar que 'os caras estão me enchendo o raio do ovo para pagar isso agora', denotando que era ele o responsável direto por diferentes compromissos financeiros da organização", narra a decisão de Mendonça. Núcleo de servidores Eric Douglas Martins Fidelis - prisão preventiva Filho de um ex-diretor do INSS, Eric Fidelis apareceu em mensagens de outros investigados, ligados ao Careca do INSS, como destinatário de dinheiro desviado e filho de "alguém do INSS". O advogado Eric Fidelis, em audiência na CPI do INSS. Saulo Cruz/Agência Senado O pai dele é André Fidelis, ex-diretor de Benefícios e Relacionamento com o Cidadão do INSS que foi preso na fase anterior da Operação Sem Desconto, em 13 de novembro deste ano. O filho Eric, de acordo com a PF, recebia propina a título de honorários advocatícios. "Para se ter dimensão dos valores envolvidos, a Polícia Federal noticia que os repasses efetuados por meio de algumas das empresas de fachada de Antônio Camilo (Brasília Consultoria, ACCA Consultoria e Prospect Consultoria) em favor de Eric Fidelis alcançam a cifra milionária de R$ 2.222.029,67, evidenciando a expressiva movimentação financeira entre o grupo empresarial e o escritório de Eric", escreveu André Mendonça. Alexandre Guimarães - prisão preventiva Segundo a apuração policial, Alexandre Guimarães foi Diretor de Governança, Planejamento e Inovação do INSS de maio de 2021 a abril de 2023, durante o governo de Jair Bolsonaro. Alexandre Guimarães, ex-diretor do INSS. Jefferson Rudy/Agência Senado Em novembro de 2022, ele abriu a empresa Vênus Consultoria e Assessoria Empresarial S/A, que tinha o mesmo contador da Prospect Consultoria, usada para pagar Eric Fidelis, e mantinha negócios com a Brasília Consultoria, outra empresa do Careca usada no esquema. O nome de Guimarães, de acordo com a PF, é citado frequentemente em mensagens de outros investigados como alguém de confiança do Careca. "Não se trata de mero colaborador ocasional, mas de indivíduo com função de articulação estratégica, estando presente tanto em ações destinadas a expansão de negócios quanto naquelas voltadas a blindagem institucional", aponta a investigação. Braço Transnacional Danielle Miranda Fonteles - busca e apreensão e tornozeleira eletrônica Dona da agência de publicidade Pepper, que atuou em campanhas do PT no passado — como a de Dilma Rousseff em 2010 e a de Fernando Pimentel em Minas —, Danielle Fonteles é o braço do esquema em Portugal, conforme a PF. A investigação diz que o Careca do INSS repassou a ela um total de R$ 13,1 milhões. Segundo a apuração, para dar aparência de legalidade às transações, foi simulada uma compra de um imóvel na Bahia, que não se concretizou. No início deste ano, o Careca fez "operações de câmbio de remessa de dinheiro para aquisição de um imóvel de alto padrão em Portugal, com intermediação de Danielle Fonteles, registrando como comprador seu filho Romeu". Danielle abriu empresas suspeitas em Portugal, como a Candango Consulting Ltda. — que tinha o filho do Careca como gerente. "As condutas atribuídas pela PF evidenciam que Danielle desempenha papel sofisticado dentro da engrenagem de lavagem de capitais de Antônio [Careca], operando em múltiplas frentes: financeira, empresarial, imobiliária e internacional. [...] É, aliás, considerada expressamente por Antônio Camilo como sua 'sócia de Portugal'", anotou Mendonça.