Por que o fogo passou a ter papel de destaque no desmatamento na Amazônia?
Por que o fogo passou a ter papel de destaque no desmatamento na Amazônia? A Amazônia vive um momento inédito. Mesmo com o desmatamento tradicional em queda,...

Por que o fogo passou a ter papel de destaque no desmatamento na Amazônia? A Amazônia vive um momento inédito. Mesmo com o desmatamento tradicional em queda, o fogo cresceu e passou a ser o principal instrumento de destruição, um novo jeito de desmatar, mais barato, mais rápido e muito mais difícil de controlar. 📱Baixe o app do g1 para ver notícias em tempo real e de graça O que antes era exceção, hoje é regra em boa parte da floresta. O desmatamento clássico, feito com tratores e motosserras, vem sendo substituído por queimadas planejadas e mais discretas, que escapam do radar dos satélites e transformam o fogo em ferramenta. a COP 30 e nosso futuro A seca extrema de 2023 e 2024 ajudou a consolidar essa mudança. Foi uma das mais severas da história recente, causada principalmente pelas mudanças climáticas e pela combinação de El Niño e aquecimento global, segundo estudos do Inpe e da Universidade Federal do Pará. O calor recorde e a chuva escassa deixaram a floresta mais seca do que o normal e assim, o que antes era verde e úmido virou material inflamável. Como funcionam as discussões da COP, a conferência do clima da ONU Com o ambiente mais vulnerável, a estratégia dos criminosos também mudou. Antes, o ciclo era previsível: derrubava-se a floresta, esperava-se secar e só então o fogo era ateado para “limpar” o terreno. Agora, o processo se inverteu. Primeiro vem a extração ilegal de madeira, que abre clareiras e trilhas, deixa a floresta mais exposta e seca, e só depois entram as queimadas. Desmatamento ilegal na área de Uruará, no Pará. Marizilda Cruppe/Greenpeace O custo é menor e o risco de detecção é mais baixo, porque o terreno não fica totalmente nu. As áreas degradadas se disfarçam em meio à vegetação, e o desmatamento avança sem ser registrado imediatamente pelos satélites. 🔥ENTENDA: Esse modelo de destruição seletiva, além de mais barato, é altamente eficiente para quem lucra com a ocupação ilegal de terras. Não é preciso trator nem maquinário pesado: bastam caminhões pequenos, motosserras e combustível. O resultado é devastador. Áreas inteiras são degradadas aos poucos, sem alarde, até se tornarem combustível perfeito. Mancha de fogo na Amazônia Adriano Machado/Reuters O efeito borda Outro fator agrava o problema: o chamado efeito borda. Quando uma área é aberta no meio da floresta, as árvores das margens passam a receber mais sol, perdem umidade e secam rapidamente. O fogo, que antes parava no pasto, agora consegue avançar para dentro da mata. Em 2024, pela primeira vez, o fogo atingiu mais floresta do que áreas de pastagem. Segundo o secretário extraordinário do Meio Ambiente, André Lima, o avanço do fogo é hoje um sinal de alerta. “Se considerarmos o desmatamento por degradação, sim, o fogo pode ser um indicador. Mas é importante lembrar que o incêndio é consequência de alterações no uso e na ocupação do solo, muitas vezes associadas a práticas culturais, ainda que ilegais e desastrosas, que são agravadas ou atenuadas pelo clima", disse ao g1. Para tentar conter o problema, o governo tem apostado em ações preventivas. O Inpe passou a cruzar dados de desmatamento e queimadas para identificar as áreas mais vulneráveis, e os planos de ação contra o desmatamento foram reativados para antecipar focos de degradação. O Ministério do Meio Ambiente afirma que a estratégia está surtindo efeito: em 2025, o Brasil registra os menores índices de incêndios florestais da década, em todos os biomas, segundo dados oficiais. E o desmatamento também segue em queda. Gado na Amazônia após fogo na floresta Bruno Kelly/Reuters LEIA TAMBÉM: 'Empresas como a Petrobras têm que deixar de ser apenas de exploração de petróleo', diz Marina Silva Comitiva da ONU inspeciona locais da COP 30 e aprova planos de segurança, mobilidade e saúde 'O que aprendi ao viver um ano sozinho com um gato em uma ilha remota' Qual é o papel da China na crise climática?